Um exército industrial para deter o coronavírus

    [Fonte: IstoÉ]

    Um exército de impressoras vibra sem parar na empresa espanhola BCN3D. Como dezenas de indústrias europeias, ela abandonou sua produção habitual para fornecer para os hospitais os materiais necessários para a guerra contra o novo coronavírus.

    Até recentemente, imprimia em 3D componentes para impressoras. Agora, as máquinas produzem centenas de suportes pretos que, montados com uma lâmina de plástico transparente, servirão como viseiras protetoras para médicos e enfermeiras.

    “Queremos dizer ao setor da saúde que estamos aqui, que podem contar conosco (…), colocando toda a nossa tecnologia a serviço do combate a uma pandemia muito grave”, afirma o diretor de Comunicações da BCN3D, David Martínez.

    De sua sede em Castelldefels, a 10 quilômetros da costa de Barcelona, já forneceram mais de 1.500 viseiras para cerca de 60 hospitais. No final da semana, esperam ultrapassar 3.500 unidades.

    Exemplos semelhantes se multiplicam por toda Europa, onde, diante da escassez de máscaras, luvas e respiradores, todos os tipos de indústrias se lançam nessa guerra da saúde.

    Na perfumaria Puig de Barcelona, os cosméticos deram lugar à géis de desinfecção. Marcas como Seat, Skoda ou Renault adaptaram as linhas de montagem de seus carros para produzir respiradores, ou máscaras, no caso da italiana Fiat.

    O mundo da moda também colabora, com a italiana Calzedonia ou a espanhola Pronovias trocando roupas íntimas e vestidos de noiva por máscaras. E as fábricas aeronáuticas da Airbus na Espanha e na Alemanha produzem viseiras.

    “A indústria, neste momento, é indispensável. Estamos falando de uma indústria de guerra, de uma economia de guerra”, disse recentemente o ministro espanhol da Indústria, Reyes Maroto.

    – Horas extras –

    Enquanto a maioria dos espanhóis trabalha de casa, ou é afetada pela suspensão de seu contrato, os funcionários da BCN3D fazem hora extra.

    “Estamos fazendo muito mais horas do que fazíamos e trabalhamos voluntariamente nos finais de semana”, conta Nacho López, estudante de engenharia e responsável pela oficina de impressão.

    Em seu computador, equipado com luvas e máscara, este jovem de 23 anos finaliza o design das peças antes de enviá-las para impressão. Ajusta parâmetros e o espaço para caberem até oito peças em cada máquina.

    Carregadas com bobinas com metros de fio plástico, as impressoras aquecem o material a 85ºC, e os braços mecânicos, com movimentos rápidos e precisos, injetam-no em uma placa onde, sob uma luz azulada, as viseiras ganham forma. É um plástico resistente à temperatura e ao desinfetante.

    “A ideia é que sejam reutilizáveis, que cada um tenha a sua, desinfete e possa usá-la novamente”, explica López, que também criou um protótipo de máscara ainda à espera de validação.

    – Respiradores com motor de limpador de para-brisa –

    A necessária homologação sanitária limita o voluntarismo de algumas empresas.

    A montadora espanhola Seat produziu 13 protótipos diferentes antes de alcançar um respirador acionado pelo motor de um limpador de para-brisa, que começou a produzir em série na linha de montagem do chassi de seu modelo principal, o Seat León.

    “Só de saber que tentamos ajudar a salvar uma vida, todo esse trabalho valeu a pena”, afirmou em um comunicado Francesc Sabaté, do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento.

    As máquinas também voltaram a trabalhar na fábrica da tcheca Skoda, 50 quilômetros a nordeste de Praga, após duas semanas paralisada pelo coronavírus. Agora, fabrica 60 respiradores e meio milhão de máscaras FFP3 por dia com suas impressoras 3D.

    “São feitas com pó de poliamida, que pode ser reforçado com a impressora e moldado em uma máscara”, diz à AFP o diretor do Departamento de Protótipos, David Vanek.

    “A vantagem deste modelo é a homogeneidade, não há camadas, buracos, ou imperfeições na superfície, para que possa ser desinfetada, e não há locais onde o vírus, ou desinfetante, fique preso”, explica.

    As máscaras, que podem ser usadas pelos médicos da linha de frente, são enviadas para uma empresa em Praga que as monta com juntas de silicone e o filtro feito por outra empresa tcheca.

    A marca, do grupo alemão Volkswagen, assim como a Seat, financia por conta própria a produção, a um custo de 5 euros por peça.